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[RESENHA] A horrível beleza em Midsommar

  • Dio
  • 26 de jan. de 2020
  • 3 min de leitura

Midsommar ("Solstício de verão", em tradução livre do sueco), filme sueco/estadunidense lançado em 2019, traz um proposta interessante sob divergências entre seu visual e seu roteiro.



Se, por um lado, temos um visual lindo e colorido, digno de um conto de fadas dos irmãos Grimm, do outro temos uma história inquietante, digna de Edgar Allan Poe, regada por um roteiro que brinca com a nossa capacidade de percepção. O diabo está nos detalhes e o diretor, Ari Aster (Hereditário), sabe disso muito bem.


O filme conta a história de Dani (Florence Pugh, de Little Woman, Viúva Negra e Lady Macbeth) em seu processo de luto pelo homicídio de seus pais e suicídio de sua irmã (sério, isso não é spoiler, acredite em mim). Ela busca seu apoio no namorado, Christian (Jack Reynor, de Transformers: A Era da Extinção e Mowgli) sem sucesso, pois seu relacionamento já está fadado ao término, adiado apenas pela recente tragédia. Quando o amigo Pelle (Vilhelm Blomgren) os convida a presenciar um ritual do solstício de verão num pequeno povoado numa ilha sueca, o casal se junta ao estudioso Josh (William Jackson Harper, o Chidi de The Good Place) e ao bon-vivant Mark (Will Pouter, de Maze Runner, As Crônicas de Nárnia e Back Mirror: Bandersnatch) nesse retiro espiritual e intelectual.


A partir daí, o filme, que até então era sombrio, escuro e sufocante, se torna aberto, limpo, claro e colorido. O contraste gritante passa logo a ideia de que os dias ruins acabaram e que nosso grupo de amigos chegou, em fim, no paraíso na Terra. Só que nem tudo é tão simples quanto parece. Os costumes locais logo começam a tecer um emaranhado com as definições de bem e mal de uma maneira que fica fácil compreendermos a classificação etária +18 do filme. O balé de cores em tom pastel do filme nos apresenta cenas intensas de sexo explícito, violência física e psicológica extrema, atos grotescos, brutais e nojentos, que colocariam qualquer filme do Tarantino no chinelo.


E é aí, então, que Aster começa a brincar com nossa percepção, colocando uma história que vai se encaixando aos poucos e se explicando nas entrelinhas, costurada por elementos de Foreshadowing (que é, basicamente, nos dar pequenas pistas do desfecho do filme durante todo o seu decorrer e de forma quase imperceptível à primeira vista), fazendo com que você queira assistir mais vezes ao longa para que consiga assimilar à todas as informações que lhe foi apresentada em seu decorrer. Além disso, o diretor também trabalha os ângulos e distorções do filme de forma muito sensata, de modo a nos deixar tontos, por exemplo, na cena em que os personagens estão todos sob o efeito de substâncias alucinógenas.


The Haxan Cloak (nome artístico do compositor Bobby Krlic, que também trabalhou em Triplo 9), nos entrega uma trilha sonora inquietante e perturbadora, que trabalha com gritos e gemidos dos personagens para nos entregar uma obra de arte do folk horror (ou terror folclórico, terror antropológico).

Tudo isso culmina para uma obra de surrealismo ibseniano com um final impactante (para o bom ou para o ruim, depende do seu ponto de vista) e que te faz repensar toda a história vista nos últimos 147 minutos. O tipo de filme para não ver de madrugada antes de dormir (a menos que pretenda virar o dia em claro

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